sábado, 2 de julho de 2011

RELATÓRIO DA DISCUSSÃO DE CULTURA POPULAR DA FESTA DE REIS DE ZABELÊ

A PRIMEIRA DISCUSSÃO DE CULTURA POPULAR DENTRO DA IV FESTA DE REIS DE ZABELÊ REUNIU GESTORES PÚBLICOS E ACADÊMICOS LIGADOS A CULTURA POPULAR, ABAIXO SEGUE O RELATÓRIO COM OS ASSUNTOS DISCUTIDOS E AS FALAS DOS PARTICIPANTES:


RELATÓRIO
Reinvenção e Revitalização das Manifestações Culturais

Santa Clara, Zona Rural de Zabelê-PB, 08 de janeiro de 2011


Participantes:

1.      Arão de Azevedo Souza - UEPB
2.      Ubirajara Antônio B. Mariano – Gente Boa
3.      Ezequiel Sóstenes B. Farias – Gente Boa
4.      Antônio Mariano Sobrinho – UHCD
5.      José Emilson Ribeiro – CPC – Centro de Cultura Popular da Paraíba
6.      João Morais de Sousa - UFRPE
7.      Severino Alves Lucena Filho - UFPB
8.      Luiz Custódio da Silva – UEPB
9.      Antônio Roberto Faustino da Costa – UEPB
10.  Cícero Josenaldo Alves de Lira – Secretaria de Educação e Cultura de São Sebastião do Umbuzeiro
11.  Sebastião César da Silva Lima – Teatro Jansen Filho – Monteiro
12.  Ricardo Cavalcanti – Teatro Jansen Filho – Monteiro
13.  Arthur Pessoa – Banda Cabruêra
14.  Rivers Douglas S. Feitoza – Banda Pife Perfumado
15.  Lena Zetterstiom – Banda Pife Perfumado
16.  Valmir Pereira da Silva – Prefeitura Municipal de Campina Grande
17.  Luciano de Azevedo Silva (RAVEL) – Karabina
18.  Pablo Honorato Nascimento – FUNJOPE
19.  Gina Kátia Góis Maranhão- ASCUZA
20.  Maria Lucineide da Silva - ASCUZA
21.  Jefferson Willian Jesuino dos Santos - ASCUZA
22.  Anaely Neves - ASCUZA
23.  José Anael Neves – ASCUZA
24.  Romerio Humberto Zeferino Nascimento – ASCUZA
25.  Sandra Belê – ASCUZA
26.  Joel Cabral dos Santos – ASCUZA



Pela Manhã
Às nove horas e dez minutos do dia 08 de janeiro de 2011 iniciou-se em Santa Clara, Zona Rural de Zabelê, o Encontro dos Professores de Universidades Públicas da Paraíba e do Pernambuco (UEPB, UFPB, UFRPE) com os Gestores Culturais do Cariri E Litoral paraibano. A exibição de alguns documentários produzidos pela Associação Cultural de Zabelê (ASCUZA) iniciou as atividades do 2º Dia da IV Festa de Reis de Zabelê-PB.
As boas vindas foram dadas por Romério Zeferino. Na sua fala frisou a importância da pontualidade, segundo ele quando os horários são cumpridos os trabalhos são mais produtivos. Relatou que na atualidade existem muitas políticas públicas e fontes de recursos para a cultura, mas muitas vezes os gestores culturais não estão preparados para o número de oportunidades que surgem. Disse que fazer gestão de cultura é diferente de fazer gestão de saúde ou educação, uma vez que as sociabilidades são diferentes. Ainda disse que no município de Zabelê existe uma Secretaria de Cultura, uma Diretoria de Cultura e uma Organização Civil voltada para a Cultura, a Associação Cultural de Zabelê (ASCUZA). Explicou que o Grupo de Trabalho da Cultura (GT da Cultura) faz parte da ASCUZA e seus membros tentam estabelecer uma relação plana entre si, limitando o sentido vertical de funções apenas para a burocracia. Os interessados em participar das atividades do GT da Cultura devem passar por um processo seletivo, mas a entrada definitiva de um membro só acontece quando o mesmo conclui o Curso de Datilografia, o qual funciona como Rito de Entrada. Após a conclusão do Curso de Datilografia o membro poderá desfrutar de outros cursos, completou Romério. A seguir falou que os trabalhos do GT da Cultura são voluntários, a maioria das pessoas do grupo não tem ligação com o Governo. Citou outra estratégia de Trabalho do GT da Cultura, a auto-correção da fala, disse que o Grupo entende a necessidade de comunicação com o mundo externo e por isso o uso correto da língua portuguesa é fundamental.
“O coletivo é importante, a hierarquia não é benéfica no associativismo”
Romério Zeferino

Romério Zeferino informou que a Cultura Popular de Zabelê é representada por um grupo de Reisado, dois gaiteiros, uma Banda de Pífano, aboiadores, violeiro, artesanatos e festejos populares. Em seguida, sugeriu que a ordem das falas de cada participante do evento fosse construída coletivamente. Por fim, falou da necessidade da interação dos agentes culturais com os acadêmicos das Universidades.

Dando continuidade, o Professor Roberto Faustino perguntou se em Zabelê já existia Conselho de Cultura.

Romério Zeferino explicou que já foram realizadas Conferências de Cultura, mas o Conselho ainda não tinha sido formado.

O Professor Severino Alves perguntou qual a relação existente entre as Universidades e a Gestão de Cultura de Zabelê.

Romério Zeferino respondeu a pergunta dizendo que em 2005 os membros da ASCUZA e da Secretaria de Cultura puderam fazer um Curso de Antropologia promovido pela UFCG no município, além disso o Reisado de Zabelê e a ASCUZA haviam sido objetos de estudos para a construção de duas monografias Completou sua resposta dizendo que os grupos culturais de Zabelê também são convidados para apresentações na Universidades.

Sandra Belê falou que uma das ações da Cultura em 2010, o Projeto Novos Palcos e Plateias, recebeu apoio das Universidades. Falou que a ASCUZA sobrevive com recursos provenientes de doações e editais, além disso existe uma parceria constante com a Prefeitura Municipal de Zabelê. Citou alguns dos Projetos aprovados pela Cultura em Editais no ano de 2009: Cine Mais Cultura (Secretaria de Cultura); BNB Cultural – Parceria BNDS (ASCUZA); MicroProjetos Mais Cultura (ASCUZA), Prêmio Inesita Barroso (Mestre do Reisado de Zabelê).
Por fim, explicou que os Projetos aprovados e realizados no período 2009/2010, assim como as parcerias estabelecidas com SEBRAE e Fundação João José deixaram o GT da Cultura mais forte.

A continuidade do Evento se deu com a fala do Sr. Pablo Honorato, o primeiro inscrito dentre os gestores de Cultura. Após se apresentar e dar boas vindas aos presentes Pablo Honorato disse que no dia anterior havia divulgado a IV Festa de Reis por meio da TV Cabo Branco. Continuando, disse que também participa do Coletivo Meio do Mundo e do Fórum Estadual das Culturas Populares, este último por problemas de comunicação ainda não abrange todo o Estado da Paraíba, mas caminha para isso. Afirmou que o trabalho com gestão pública não é fácil, principalmente quando se pensa na efetividade de ações voltadas para a Cultura Popular. Disse que uma das demandas do Fórum foi aprovada junto a FUNJOPE: o pagamento de cachês aos grupos de cultura popular nos eventos da FUNJOPE é feito de acordo com o número de componentes de cada grupo. Pablo Honorato afirmou que o valor pago aos grupos melhorou, embora não seja o ideal ainda. Também informou que o Coletivo Meio do Mundo é uma instituição que também pensa em políticas públicas para o Estado, pois no ano de 2010 o Coletivo fez um inventário dos Cocos de Roda da Região Nordeste. A cidade de Zabelê também participou do mapeamento feito pelo Coletivo. Completou sua fala dizendo que a capacitação das pessoas que trabalham com cultura é fundamental. Disse que os grupos de cultura popular tem dificuldades para conseguirem recursos, uma vez que os editais tem uma linguagem muito técnica, além de serem divulgados apenas pela internet, ou seja, a maioria dos grupos não tem acesso a esses conhecimentos, logo não têm como se manter financeiramente.

Professor Roberto Faustino propôs que todos os gestores de cultura falassem de suas experiências, só após todas essas falas os professores universitários se manifestariam.

Antônio Mariano, Professor e Gestor Cultural representante do município de Camalaú, falou que Zabelê é uma referência quando se fala em gestão de cultura, mas nota que há uma desarticulação entre os municípios vizinhos que faz com que haja um desconhecimento das manifestações culturais uns dos outros. Segundo ele, não há gestão de cultura governamental em seu município, o que há são organizações para promoção dos políticos partidários. E ainda: o que há em seu município são organizações para realização de carnaval, corais, festa de natal, por parte da prefeitura. Mas a sociedade civil realizou por alguns tempos encontros de diferentes religiões, visto que o Cariri Ocidental é uma região rica nesses valores religiosos. A sociedade está ligada a culturas místicas. Em Camalaú, seu município, há uma festa chamada de Festa de Santo Antônio (a Festa do Fogo Sagrado). Também disse que deveria haver uma articulação entre a cultura caririzeira. A integração entre os municípios poderia fazer com que a região realizasse as melhores festas, essas troca faria com que os municípios gastassem pouco e realizassem eventos grandes. Agradeceu o convite carinhoso e insistente do GT da Cultura de Zabelê para que eles participassem do evento, um convite impessoal, distante não é instigante para a participação, o toque pessoal é mais significante. Disse que a região tem que ter um sistema de comunicação, que faça com que todos se informem do que estará acontecendo no município vizinho. Continuou dizendo que Camalaú tem artesanatos, sítios rupestres com inscrições que tem grande valor, mas que tem sido pouco explorado. Os fatos, como as histórias, as origens dos grupos e as famílias locais têm que ser melhor apreciados. O fato de todos estarem juntos no evento, ouvindo experiências mútuas já é um bom sinal de avanço. O professor disse ainda que existem valores, produções culturais que não são utilizados no dia-a-dia na construção da vida de cada pessoa, muitas vezes as pessoas constroem sua via de olho em valores externos, o que faz com que muitas vezes a cultura popular não seja valorizada. Disse que o povo caririzeiro tem uma série de valores que estão escondidos, uma vez que estamos voltados para valores de fora, externos, esquecemos os valores do nosso povo e que não concorda com o isolamento dos grupos, uma vez que acha que aos grupos devemos oferecer oportunidades de crescimento, “valorizar sem destruir”, “se tu queres ser universar, cante a tua aldeia”. Lembrou que as redes de televisão estão padronizando as formas de ver o mundo. Disse Camalaú está carente de contatos com instituições, eventos são financiados com recursos meramente pessoais.

Cícero Lira, Secretario de Educação e Cultura de SS Umbuzeiro, informou que no seu município existe o folguedo do Pastoril, uma Banda de Pífano, aboiadores, banda filarmônica e que todos os anos eles se apresentam na Festa de São Sebastião do Umbuzeiro. O município participou do Programa do Minc Revelando os Brasis. Lembrou que desde que assumiu a Secretaria do seu município há o desejo de que haja a separação de cultura com a educação, para que os valores e potenciais culturais de sua cidade sejam retomados.

Pablo informou que pelo Plano Nacional de Cultura, os municípios que não tiverem Secretaria de Cultura (provavelmente até 2012) não terão repasses de verbas federais.

Ismenia Tereza, da cidade de Monteiro, informou sobre a gestão de cultura de Monteiro. Ela se orgulha da cultura de Monteiro, visto que lá existe um Coco de Roda. Embora este não seja respeitado pela população. Também existe uma semana de cultura, grupo de capoeira, etapa do Forró Fest que acontece no centro da cidade. Foi enfática em dizer que a ideia de cultura tem que andar junto com a educação, pois se os jovens fossem direcionados para as suas raízes cultura, durante o ensino básico, a sociedade no futuro entenderia melhor suas culturas locais. Lembrou de Zabé da Loca como um ícone da cultura Monteirense.

Arthur Pessoa, vocalista da banda Cabruêra, mencionou as 11 turnês pela Europa que o grupo realizou desde a sua fundação há 11 anos atrás. Lembra da importância de dominar as tecnologias de informática. A banda Cabruêra construiu um trabalho de modo independente, tendo uma sustentabilidade a partir da própria experiência. Lembrou que como Cuiabá que criou o circuito fora do eixo, Zabelê o fez da mesma forma ao realizar um evento desta natureza. Existem alguns coletivos na Paraíba, os quais surgiram a partir de coletivos que surgiram em Cuiabá. Normalmente esses coletivos organizam festivais, construindo redes de contatos que articulam encontros em todo o brasil. Cada coletivo é pequeno, mas quando eles se juntam são muito fortes. Disse que a ABRAFIM, Associação Brasileira de Festivais Independentes, tem quase 50 Festivais que tentam se organizar apenas com patrocínios dos coletivos, sem empresas privadas. Arthur tem um trabalho junto com a ABRAFIN na Paraíba, com o Festival Mundo e com o Encontro Para Nova Consciência. Lembrou que o Festival Brasil Rural contemporâneo reúne grupos de cultura popular e o mesmo é um festival do mda. Arthur, continuou dizendo que Pedro Paulo (ex diretor da Tv E Brasil) está fazendo um documentário em homenagem a Zabé da Loca, isso dá bastante visibilidade a cultura popular, ou seja ao mesmo tempo que você reinventa você revitaliza. Salienta que estratégias de sustentabilidade realmente são necessárias, isto é, é importante perceber o papel e a importância da economia da cultura, de como fazer com que a cultura seja fonte de sustento para o artista ou fazedor de cultura.

Sandra Belê perguntou em relação aos coletivos, se são instituição formalizadas, com CNPJ.

Athur disse que eles não precisam ter CNPJ, só precisam estar reunidos em torno de um ideal e criar estratégias para que as pessoas interajam com a cultura. Informou que é necessário que se entenda que cultura é política, agir politicamente é necessário, buscar diálogo e parceria é necessário, independentemente de vínculos ideológicos. Cada coletivo tem em média 15 pessoas, então o Fora do Eixo reúne todos os coletivos.

Romério Zeferino perguntou se os coletivos permitem a entrada de todo e qualquer setor da cultura.

Athur respondeu que acredita que os coletivos reúnem diversas manifestações, mas a música se destaca por ser carro chefe das formas de expressão.

Pablo disse que a preponderância músical nos coletivos difere do que acontece com a Lei Rouanet, uma vez esta patrocina mais dança, teatro.

Arthur informou que são muitos editais, inclusive a empresa de serviços telefônico Vivo está fomentando muitos projetos e que muitas vezes existem editais sem propostas, isto quer dizer, quase sempre sobra dinheiro para cultura.

Bira do Gente Boa lembrou que experiência dentro do grupo Gente Boa é bastante satisfatória, pois o mesmo existe a dez anos e o intuito foi trazer ao conhecimento do público artistas famosos, porém desconhecidos dentro da região como Pinto do Monteiro, Jackson do Pandeiro, Jacinto Silva e muitos outros. O grupo é politizado e quase sempre seus membros discutem o que é realmente Forró. Já tem seis CDs gravados, sendo três autorais. No último trabalho, o DVD gravado em 2008 foi financiado com recursos dos próprios integrantes do grupo. Sobre a música paraibana: “os artistas que a fazem são desarticulados, sem o mínimo de organização coletiva.” Também falou que atualmente sua banda se apresenta em poucos municípios, sempre existem Shows, mas em poucos locais. “Além do distanciamento que existe entre a capital com o interior, também existe um distanciamento entre os municípios do interior, esses municípios não se comunicam. Existe a necessidade de que se viva intensamente a cultura”. Lembrou também que na sua cidade, Camalaú não há movimento cultural.

Ezequiel (quiel do acordeon), lembrou se a Banda Cabruêra não tivesse um sentido empreendedor talvez não existisse mais. O Gente Boa, se apresenta em Pernambuco e na Paraíba, mas quando vai se apresentar na cidade de Camalaú o Gestor Municipal paga cachê baixo. Existem dificuldades de apresentação na própria cidade de origem. Disse que muitas vezes pessoas tentam utilizar-se do tema forró, para caracterizarem estilos que nada tem haver com o forró. Existe uma singularidade na produção musical relacionada ao forró, pois canta-se o que se é, o que se vive. No caso do forró identidade é a palavra. “O povo nordestino tem que ser empreendedor do seu próprio empreendimento”.

Douglas da Banda de Pife Perfumado, lembra do nascimento do movimento cultural de Monteiro a partir da influência pernambucana e dos fãs de Raul Seixas. Disse que acha importante o resgate da identidade cultural promovido pelo GT da Cultura de Zabelê. Entende também que o teatro e o audiovisual são muito importantes para a formação de jovens, pois ensina aos jovens ganharem uma postura de valorização, auto-estima. “É necessário se trabalhar coletivamente, compartilhando as coisas boas e ruins. A valorização de grupos culturais se faz através da educação popular.”


Emilson. Ex-diretor de cultura popular da FUNJOPE, onde exerceu o cargo por quatro anos e representante do Centro Popular de Cultura. “É necessário que sejamos eficientes, pois existem recursos, mas não existem projetos”. Disse que sua historia se confunde com a cultura. O Centro popular de cultura foi criado com o objetivo de valorizar as manifestações culturais quase esquecidas. “A cultura popular não é mercenária”. Lembrou também que o CPC levou experiências que foram assimiladas pela FUNJOPE. “A capacitação para a aquisição de recursos não acontece com os mestres de grupos populares, pois é impossível um mestre de Reisado fazer um projeto com toda a burocracia que está envolvida”. Enfatiza também que “ligar a cultura a didática é importante, pois o tiro de um bacamarteiro é um tiro como outro qualquer, mas quando se explica o que está por traz da manifestação as pessoas entendem os sentidos daqueles tiros”. Ressalta que a organização política é necessária para a sobrevivência da cultura popular. Um bom exemplo de organização política é a experiência dos 300 grupos de Boi de Reis do Piauí que atualmente é o maior empregador do Estado. “A cultura popular é uma ilustre desconhecida”.

Após esta fala Sandra fez alguns lembretes do encontro e informou que todos deveriam voltar às 14 horas, Arthur propôs que o audio fosse transcrito, impresso e divulgado. Neste caso, não será possível fazer isto pois a captação do áudio não funcionou.

Pela Tarde

Os trabalhos da tarde iniciaram-se com apresentação musical de Sandra Belê. Em seguida , os professores universitários iniciaram suas falas.
João Moraes, professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Iniciou dizendo que a vivência nos Saberes populares não são menos importantes que os saberes acadêmicos, são apenas diferentes. “A universidade tem que promover cidadania, construir sociedade mais justa, nenhuma manifestação é mais importante que a outra, elas tem que se unir para se tornarem mais fortes”. Destacou a importância da preservação da cultura popular, manutenção da essência, pois “a cultura deve ser feita para a alma, para o espírito”. “A cultura é vista como produto e as vezes as pessoas valem pelo que consomem e não pelo que realmente são”. Ao tratar dos editais públicos para a cultura disse ter um certo medo, pois “estes são políticas descontínuas e a cultura deve ser contínua. Temos que garantir ao fixo, que o mesmo tenha continuidade”. As coisas locais devem ser mostradas para o próprio povo”. E mais ainda: “As articulações devem ser feitas dando autonomia dos grupos culturais, as universidades não podem chegar com uma ‘fórmula pronta’”. Ele se mostrou receoso que a cultura popular venha a se tornar apenas espetáculos, “temos que combater a sociedade de consumo”. “A busca do ser humano é a perfeição, se um dia dissermos que tal coisa está perfeita, estamos impedindo o crescimento, somos incompletos. E neste caso, a Universidade as vezes embrutece, algo que era para humanizar. Poesia é a sensibilidade que muita gente não tem”.

Severino Alves Lucena Filho, Professor da Universidade Federal da Paraíba, disse que era uma prazer estar nesse “cenário mágico”! Na formação das novas platéias. Continuou: “A cultura popular não deve ser olhada e encantada apenas quando é sistematizada. O professor deve encontrar em cactos, em elementos nossos, o seu ensinamento.” Propõe uma transversalidade na formação pedagógica, junção de forças no Cariri Ocidental em que “os gestores devem reunir para construir um catálogo de eventos e atrações culturais de cada município”: realizar um inventário cultural.” Propõe para o próximo encontro: - modificar as formas de comunição, formas mais efetivas, para nos dirigirmos aos municípios; - mídias alternativas; - sensibilizar as lideranças da região, comércio, turismo, educação; - mudar o atual espaço, mas tem que ser na cidade e não na zona rural; - facilitar o acesso; - articulação e negociação. Chama a atenção de todos dizendo que “quem trabalha com cultura popular tem que estar negociando constantemente, outros atores devem ser contactados, comercio local [...]. “Devemos pensar global e viver o local.” Chamou a atenção para o sentido de pertencimento, pois para que um encontro como ocorra a comunidade deve ser mobilizada e está comprometida com o evento. Propõe também que se crie uma grife do GT da Cultura, pois seria uma forma de sustentabilidade e de divulgação. Agradeceu o convite e se colocou a disposição.

Arão de Azevedo, professor do curso de comunicação da Universidade Estadual da Paraíba e trabalha com cultura popular. Informou que a UEPB criou um selo denominado de Latus e que a mesma abre espaços para o fomento e divulgação de expressões artísticas. Os artistas devem colocar seu currículo para apreciação da universidade. Dividiu os “fazedores” de cultura a partir das seguintes denominações: -“Sujeito: pessoas que trabalham com a cultura”; - “Sujeito produtor: pifeiro que toca e vai pra feira”; “Sujeito potencializador: gerenciador, potencializa o que está sendo feito, movimenta a cena cultural”. No entanto, questiona como se deve articular o sujeito produtor e o sujeito potencializador? Propõe a capacitação para que o sujeito produtor consiga concorrer aos editais, tentar fazer políticas de continuidade concorrendo a diversos editais. Diz ainda que a articulação política vai de encontro com interesses próprios, de fins eleitoreiros. Outro ponto que chama a atenção é para a criação de público, pois “este evento deve ocorrer na cidade, criar platéia é necessário para que a manifestação cultural não se acabe. Tenho Rabequeiro, mas não tenho quem escute o Rabequeiro. Para que uma idéia seja plantada, é necessário uma reunião”. Propõe integração num próximo evento: a escola tem que estar presente. Lembra que a articulação no cariri é bem mais forte do que em outras Regiões do Estado.

Romério prosseguiu a responder sobre o porque dos espaços de Santa Clara, apontando para excentricidade do local, da estrutura oferecida de leito, banheiro, cozinha e sobretudo da descentralização do uso do espaço urbano, que sempre é utilizada para as questões referentes a produção de conhecimento. Lembrou também do Fórum do Microterritório das Onças como uma grande tentativa, com alguns avanços, de fazer um trabalho intersetorial entre os municípios de Camalaú, Zabelê, SJ do Tigre e SS do Umbuzeiro. Outro ponto que enfatizou é que quando se fala em cultura e educação escolar existe um grande diferencial entre o que ocorre em municípios de médio e  grande porte com o que ocorre entre municípios de pequenos portes, pois as crianças crescem vendo os grupos se apresentando, isto é, tem total acesso aos mesmo.

Arão, disse que é necessário criar novas estratégias que forcem as pessoas a participarem desse momento.

Athur vê o evento positivamente, inclusive quando se trata do espaço utilizado.

Valmir, fez as seguintes colocações. “Temos que perceber que a partir de um dado momento a cultura se tornou muito mais expressão de mercado, produtos e bens culturais. São produtos por que saíram do âmbito do local, há necessidade de dar visibilidade, por isso que há necessidade de se pensar a indústria cultural. Os fazeres locais se tornam visíveis quando há mercado, esse é o mercado cultural. Para que ocorra o fortalecimento interno deve levar em consideração o olhar do outro que é de fora. Quando se pensar cultura popular, revitalização, reinvenção, tem que se levar em consideração que o momento é extremamente fértil, existe um Estado que está criando mecanismos para esses produtos, sujeitos e agentes apareçam. Leis de incentivo a cultura, instituições privadas, são sujeitos importantes desse cenário. Esse é um trabalho de garimpo, com o tempo a própria cidade, com o influxo endógeno haverá que reconhecer. Muitos dos produtos culturais que dão visibilidade a cultura aparecem por que alguém de fora, um mercado de fora, pensa que pode-se ganhar dinheiro sobre esse sujeito. Hoje o agente cultural tem que ter um lastro de conhecimento muito grande. Fazer cultura é como um bom nadador, tem que mergulhar, imergir e ter fôlego. É um trabalho de longo prazo.”

Luiz Custódio, professor da Universidade Estadual da Paraíba, saudou a todos e agradeceu a oportunidade de participar do evento. Ele faz parte de um projeto de pesquisa na UEPB intitulado “Comunicação Cultura e Desenvolvimento”. Este é um grupo de pesquisa que agrega projetos de extensão do departamento de comunicação. O Evento “Festejos Juninos no Contexto da Folk Comunicação” é um evento ligado a este grupo e já tem sete edições. No ano anterior (2010) trabalharam o mesmo tema que está sendo discutido neste evento. O professor diz que “as experiências relatadas pelos municípios apontam que há sim possibilidade de se trabalhar a cultura popular na Paraíba. Esse é um momento para se ter uma postura menos pessimista, o Estado intervém de forma positiva. Os vários segmentos da sociedade, as pessoas envolvidas, devem continuar ocupando os espaços que surgem. O Estado e a Industria Midiática abre para a reinvenção e revitalização da cultura popular. Deste modo, o Estado vem se colocando de forma positiva. É preciso reflexão ou intervenção para que se diminua a quantidade de bandas e/ou eventos que os municípios realizam, uma vez que os municípios trazem nesses eventos as piores coisas da música.” E pergunta a todos: Será que o povo realmente não se interessa pelos grupos culturais? É preciso que mais grupos sejam criados, outras fundações discutam o tema. Não se fala em arte engajada, mas é preciso que essas raízes, manifestações, concepções sejam recuperadas. Esse é um momento bom, de esperança, de otimismo. A cultura é uma forma de desenvolvimento. Deve haver uma variável econômica, os grupos devem ter uma autonomia, auto-estima melhorada”. Utiliza o termo  “educomunicação” para relacionar os setores de educação e comunicação. Fala sobre as Rádios Comunitárias afirmando ser necessário inserir as atividades culturais nesses meios. E ainda: “Temos que trazer outras pessoas para eventos desse tipo, outras estratégias devem ser pensadas”.

Antônio Roberto Faustino da Costa, professor da UEPB. “Temos que ousar, na Universidade é necessário que sejamos ousados. A Universidade tem responsabilidade com os gestores culturais, de fazer com que eles sejam mais ousados, para que possam ocupar os espaços que estão disponibilizados para eles. Temos que exigir que as Universidades cumpram seu papel na cultura. Os agentes devem exigir mais da Universidade, pois ela tem esse papel. A cultura tem que fazer parte da formação das pessoas, tem que estar nas Escolas. Há necessidade urgente de colocarmos essas discussão para as crianças. Temos que ousar.”

Pablo, informa que existe um projeto engavetado no Centro Estadual de Referencia da Cultura Popular de suma importância para a gestão de cultura popular dentro da Paraíba. E diz ainda: “Temos que ver formas de estar em comunicação, dialogando. O fórum de cultura popular é muito importante para o estado. A secretaria de cultura do estado tem que gerar a comunicação.”

“O fórum itinerante é uma ação”, disse professor Severino. E ainda: “a comunicação é papel da Secretaria de Estado”.

Pablo disse que o fórum não é do Governo estadual, mas é papel dele fazer a articulação.

Arthur propôs que acontecesse um fórum de cultura do cariri, ao invés de apenas uma discussão sobre cultura popular.

Romério disse que o fórum de cultura do cariri já existe, mas que deve abranger um número maior de pessoas.

Douglas disse que quando ele começou na gestão de cultura em Monteiro, não existiam eventos, nem editais. As pessoas faziam cultura por se identificarem com o movimento. Faziam articulações com outros Estados, atualmente o grupo se dispersou, mas todos deixaram de ser “Zé” e “Maria” sem objetivos. Disse que realmente perdeu o contato com as escolas e que a partir de agora retornaria contato com as direções de escola para apresentar a Banda de Pífano nas escolas. Propõe a criação de uma rede social de cultura, de um calendário de eventos do cariri, uma vez que existem muitos eventos e muitas vezes as pessoas não podem assistir a todos.

Cícero Lira, colocou para platéia algumas questões: “como trabalhar com jovens e com grupos sem dinheiro; como criarmos, gerarmos renda?

Arão responde: “temos que ver as especificidades de cada manifestação, alguns grupos não vão ter vocação financeira. O estado é que deve destinar recursos para a manutenção dessas manifestações. Empreendedorismo também se aplica.”

Romério disse que em caso de dinheiro do Estado para financiar os grupos no dia em que acabar esse dinheiro o grupo acaba, pois as relações mudam quando se fala em dinheiro dentro dos grupos

Valmir lembra o papel da Secretaria de Cultura do Estado. A Ausência de secretaria específica para cultura faz com que tudo fique mais difícil. A sociedade civil organizada tem que ser “garimpeira”. Construir elementos é a magica para se fazer a construção desse público.

Emilson propôs que todos lessem a cópia da reunião do fórum estadual. Disse que concordava com Romério, quando se fala que quando os grupos são fomentados pelo estado eles se acabam. É atestado de “morte” da manifestação cultural.

Romério pediu que a Universidade repassasse os gestores de cultura as estratégias reais e necessárias para participação da escola nos processos que envolvem a cultura. E lembrou que atualmente um problema de gestão na cultura é que “existem vários cavalos selados, mas nós não temos pernas para montar nesses cavalos”. Romério trouxe a memória o Jornalista Anselmo Alves, grande ativista cultural pernambucano.


“O poder não é unidirecional, precisamos ocupar os lugares, ocupar espaços”; - “Quem detem o saber, detem o poder”.


Relator: Anael Neves

GRUPO DE TRABALHO DA CULTURA